quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Leopoldina - embaraços não faltam

"Jeanne Samary", Pierre-Auguste Renoir, 1877


"Leopoldina deu um salto na voltaire. Filhos! Credo, que nem falasse em semelhante coisa! Todos os dias dava graças a Deus em os não ter!
- Que horror! - Exclamou com convicção ... - O incómodo todo o tempo que se está! ... As despesas, os trabalhos, as doenças! Deus me livre! É uma prisão! E depois quando crescem, dão fé de tudo, palram, vão dizer ... Uma mulher com filhos está inútil para tudo, está atada de pés e mãos! Não há prazer na vida. É estar ali a aturá-los ... Credo! Eu? Que deus me castigue, mas se tivesse essa desgraça parece-me que ia ter com a velha da Travessa da Palha! 
- Que velha? Perguntou Luísa.
Leopoldina explicou. Luísa achava uma «infâmia». A outra encolheu os ombros, acrescentou: 
- E depois, minha rica, é que uma mulher estraga-se: não há beleza de corpo que resista. Perde-se o melhor. Quando se é como a tua amiga, a D. Felicidade, enfim! ... mas quando se é direitinha e arranjadinha! ... Nada, minha rica! Embaraços não faltam!"

"O primo Basílio", Eça de Queiroz

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