quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Juliana: a necessidade de se constranger ...


"Só", Toulouse-Lautrec, 1896


«A necessidade de se constranger trouxe-lhe o hábito de odiar: odiou sobretudo as patroas, com um ódio irracional e pueril. Tivera-as ricas, com palacetes, e pobres, mulheres de empregados, velhas e raparigas, coléricas e pacientes - odiava-as a todas, sem diferença. É patroa e basta! Pela mais simples palavra, pelo acto mais trivial! Se as via sentadas: "Anda, refastela-te, que a moura trabalha!". Se as vir sair: "vai-te, a negra fica cá no buraco!". Cada riso delas era uma ofensa à sua tristeza doentia; cada vestido novo uma afronta ao seu velho vestido de merino tingido. Detestava-as na alegria dos filhos e nas prosperidades da casa. Rogava-lhes pragas. Se os amos tinham um dia de contrariedade, ou via as caras tristes, cantarolava todo o dia em voz de falsete a "Carta Adorada!". Com que gosto trazia a conta retardada de um credor impaciente, quando pressentia embaraços na casa! "Este papel!", gritava com uma voz estridente, "diz que não se vai embora sem uma resposta!". Todos os lutos a deleitavam - e sob o xale preto, que lhe tinham comprado, tinha palpitações de regozijo. Tinha visto morrer criancinhas, e nem a aflição das mães a comovera; encolhia os ombros: "Vai dali, vai fazer outro. Cabras!"»

Sem comentários:

Enviar um comentário