terça-feira, 22 de setembro de 2015

Mensagem de Sophia e Fhilos


Amigos mais jovens, não esquecemos que aguardam mais pistas de leitura e questões para vos inquietar. O calendário Dianoia - Integra Saberes, para  Setembro, orientou-se pelos eventos de apresentação e venda da Agenda 2015/2016, que têm  sido um sucesso e que todos estão a começar, agora que as aulas se iniciaram, a usar e a descobrir, por isso, os nossos amigos Sophia, Fhilos e Ócio têm estado, aparentemente, menos activos. 
Não, nada que se pareça com isso! Fhilos descobriu que os manuais de 3º ano são fantásticos e têm coisas novas sobre geografia e outras coisas que ele queria tanto saber! Sophia está deslumbrada com a nova escola do agrupamento, inscreveu-se no clube de dança e já tem imensos amigos! 
- Como foi possível? pensa Ócio. Sim, cada vez mais este gato é um pensador. Estamos convencidos, aqui na Dianoia, que tudo o que os outros se esquecem de pensar  Ócio vai pensando. - Não vos dava jeito ter um gato assim?
Bom, tudo isto para vos dizer que vos daremos notícias brevemente e podem continuar a contar connosco porque iremos de novo olhar e ver o Plano Nacional de Leitura - PNL - e diremos que livros a Sophia e o Fhilos, e talvez até o Ócio, andam a ler e a questionar. Combinado? Até daqui a dias, um beijinho para todos e boa semana de escola!

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Essencial



Os exemplos de currículos escolares desenvolvidos de modo integrado são vários, em Portugal e no resto do mundo. Este modelo de organização curricular e pedagógica define-se pela compreensão da existência e experiência humanas enquanto contínuo sistémico que decorre integrando tudo e todos. A existência deste modelo curricular, em que por exemplo as disciplinas são mais ou menos abolidas, a divisão de turmas é informal, os professores são partilhados e entendidos como recurso global da escola, a arquitectura do espaço se presta à comunicação e deambulação das pessoas sem preocupação maior de espaços interditos, a metodologia de trabalho abraça o projecto, o feedback é contínuo, a avaliação significa aprendizagem e os pais são considerados parceiros educativos, dizíamos, a existência deste modelo organizacional de currículo significa compreender a educação e a formação como processo em que a escolha e o poder de decidir são acções essenciais. Não porque as crianças e jovens possam sozinhos escolher, mas porque a escolha e a responsabilidade a esta associada são aspectos essenciais da vida do indivíduo e das comunidades. Depois, porque, aprender envolve motivação, sabemos que as escolhas pessoais e o envolvimento geram dinâmicas intrínsecas de “apego” e vinculação absolutamente essenciais para o comprometimento pessoal que a aprendizagem exige. Sintetizando, a liberdade de escolha, e não o acaso ou o despotismo, fizeram-nos humanos.
Tudo isto vem a propósito da definição de “um currículo essencial”.
No Brasil a expressão “cesta básica” surgiu referindo-se ao conjunto de alimentos considerados essenciais para que as famílias se mantivessem sem problemas de maior no que diz respeito à ingestão mínima de proteínas, minerais etc. Em Portugal esta cesta chamar-se-ia “cabaz essencial”.
Nas últimas semanas soubemos que os alunos do 9º do ensino básico, com idades entre os 14 e os 17 anos, não irão durante este ano lectivo e os próximos, ter acesso a conteúdos curriculares relativos à sexualidade, nomeadamente esclarecimentos e informação sobre meios contraceptivos em aulas de Ciências Naturais. Soubemos também que o apoio por parte do MEC, nomeadamente financeiro, ao ensino artístico, música incluída, estava seriamente em perigo. O que nos permite voltar aos dois conceitos que orientam esta reflexão: essencial e escolha.
O que significa, curricularmente falando, escolher? As escolas públicas podem escolher a sua estrutura curricular, podem apresentar variações na oferta educativa? Podem orientar e definir os seus projectos educativos de forma singular? Propondo percursos e caminhos diferentes? Os pais e os alunos podem optar por percursos curriculares “alternativos” e não exclusivamente pelos uniformizados?
Por último, como pode qualquer autoridade definir o que é essencial? A música não é essencial? Porquê? Não possui valor económico? Não podemos todos ser músicos? Possibilitar a todos formação musical não é essencial? Porquê? Podemos ser nós, cada um de nós, pais, mães, crianças e jovens a definir o nosso “essencial”? Poderemos entender que a essência do humano se faz pela escolha? Que a natureza humana é o que é porque não está fundamentalmente submetida a condicionalismos naturais mas possui uma extraordinária essência cultural que a faz fazer coisas e produzir, tantas vezes, inutilidades belas e autênticas, exactamente por isso, porque não servem para nada, mas são essenciais, como a música.

sábado, 19 de setembro de 2015

Desafio da filosofia



Como é possível a filosofia na cidade, qual é o seu lugar, se é que tem um, nas tarefas e preocupações humanas, quais são as condições políticas do seu exercício, do ensino que produz, quer para os filósofos quer, de modo diferente, para os não filósofos?”
A formulação desta questão é da responsabilidade conjunta de E. Cattin, B. Frydman, L. Jaffro e A. Petit no prólogo a “Leo Strauss: Art d'écrire, Politique, Philosophie”, Librairie Philosophique J. Vrin, Paris, 2001.
Leo Strauss nasceu a 20 de Setembro de 1899 em Kirchhain, Hesse, Alemanha, morre em Maryland, EUA, a 18 de Outubro de 1973.
Entre estas duas datas existe uma vida, um percurso geográfico, que o leva do continente Europeu até às ilhas Britânicas e, em 1938, para a América do Norte, e um pensamento, que se fez da condição de ser judeu, de ter convivido academicamente com Husserl e Heidegger, de ter em comum com Hannah Arendt o judaísmo e a filosofia, de ter, em primeiro lugar, estudado as tensões filosóficas que originaram o kantismo, a sua tese de licenciatura, 1921, é sobre teoria da ciência em H. Jacobi, de ter dialogado com Alexandre Kojève, Karl Lowith, Franz Rosenzweig, Alexandre Koyré e Hans Georg Gadamer. Entre 1949 e 1967 ensina na Universidade de Chicago.
Em 1941 escreve e publica em Social Research 8, nº 4, pp. 488-504, “Persecution and the Art of Writing”, texto que retoma em 1952.
O pequeno artigo inicia assim: “Num número considerável de países, que usufruíram durante cerca de uma centena de anos de liberdade de discussão pública praticamente total, esta liberdade está hoje suprimida e substituída pela obrigação de conformar os discursos às opiniões que o governo crê úteis ou que considera mais importantes. Talvez valha a pena examinar brevemente os efeitos deste constrangimento ou desta perseguição no pensamento e também na acção.
Amanhã, 20 de Setembro de 2015, passam 116 anos sobre o nascimento de Leo Strauss. Cerca de 2550 anos nos separam dos dias do julgamento e condenação à morte de Sócrates, em Atenas, e 359 anos da sentença de excomunhão de Baruch de Espinoza, proferida pelo Conselho de Anciões da Sinagoga da comunidade portuguesa de Amesterdão, a 27 de Julho de 1656. O cineasta iraniano, Jafar Panahi, está preso desde Março de 2010 e o artista activista dos direitos humanos, Ai Weiwei, preso no aeroporto de Pequim a 3 de Abril de 2011 só há pouco foi libertado, os dois têm em comum o facto de questionarem a tirania e o despotismo do exercício governativo dos seus estados.
Os sistemas políticos e os paradigmas científicos têm tendência a perseguir aqueles que dizem e manifestam princípios de acção diferentes dos instituídos. Há cerca de 2500 anos Platão escrevia o Livro VII da República, aí apresenta-nos um cenário, conhecido como Alegoria da Caverna, no qual estabelece paralelismo entre a vida nas sombras da caverna e a vida humana, terrível analogia, principalmente pelo desconhecimento e inconsciência da nossa condição de escravos presos a um mundo de aparências que tomamos por reais. Sair da caverna significa questionar o modelo instituído, libertando-se do paradigma de análise vigente e, principalmente, dizer aos outros que estão enganados, que o que supõem ser verdade não o é. Este papel, segundo Platão, caberá ao filósofo, entendido como educador ou orientador das massas, estas, não sendo irracionais, não gostam de ser convencidas, logo, o que fazem é a perseguição do filósofo. Para se defender, segundo Leo Strauss, este desenvolve formas exotéricas de escrita, por isso precisamos aprender a ler entre linhas, para entender o pensamento dos que querendo pensar livremente são perseguidos, exactamente por não aceitarem as ortodoxias vigentes.
A investigação livre e a comunicação dos seus resultados supõe que a educação é capaz de fazer leitores e ouvintes disponíveis para substituir antigos modelos de compreensão do real por outros, mas, da mesma forma que para aprender preciso de voluntariamente substituir conhecimentos antigos por novas propostas de pesquisa, o que significa que aprender resulta de um acto voluntário de escolha em que abandono o já conhecido e abraço o desconhecido, também o investigador e o filósofo precisam de estar atentos ao esforço de reconversão que pedem aos não investigadores e aos não filósofos ou correm o risco de serem ostracizados e porventura perseguidos. Ainda que Platão pretendesse atribuir ao filósofo o papel de orientador e líder social, a natureza da filosofia exige a liberdade e o não comprometimento como única forma de acção, por isso o filósofo está ao serviço da cidade, da polis, mas não pode estar com a cidade ou correrá dois riscos: ou ser perseguido ou deixar de ser filósofo. A opção pela filosofia é uma escolha única que, muitas vezes, implica solidão, Bento de Espinoza, viveu sozinho o resto dos seus dias.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Tijolos

Existem vários tipos de tijolos, todos eles servem para construir algo maior. Os tijolos são partes constituintes de um todo que se desenhou e já se construiu ou se pretende construir, nesse caso os tijolos estão simplesmente em estaleiro aguardando que o empenho e criatividade de alguém faça deles algo maior do que a sua existência solitária. Cada tijolo encerra em si a possibilidade de, ao juntar-se a outros, participar na edificação de algo fantástico. As crianças sabem isso muito bem. Exactamente por isto a Lego consegue manter-se em actividade desde a primeira metade do século XX, não sendo por acaso que o seu criador era um carpinteiro. A empresa atravessou momentos difíceis no fim do mesmo século, quando de forma extraordinariamente simplista se assumiu que a operatividade e o manuseamento de objectos poderiam e seriam substituídos pelo virtual e pelo digital. As vendas caíram, a Lego teve de repensar os seus tijolos, ou seja, a essência do seu negócio, o produto a apresentar aos seus clientes. Os seus clientes preferenciais são crianças, estas sabem bem o que fazer com tijolos. Construir universos e expandir a sua criatividade treinando a percepção das suas potencialidades e competências. Ou seja, desenvolvendo todas as dimensões da sua humanidade.
Tudo isto vem a propósito de dois artigos, hoje publicados no jornal Público, um sobre os desafios da Lego, outro sobre o afastamento de conteúdos relativos à educação sexual da disciplina de Ciências da Natureza, no 9º do ensino básico.
Os dois lembraram-me o Despacho nº 17169/2011 do Gabinete do Ministro, Ministério da Educação e Ciência.
Diz-se aí: “O currículo deve incidir sobre conteúdos temáticos, destacando o conhecimento essencial e a compreensão da realidade que permita aos alunos tomarem o seu lugar como membros instruídos da sociedade.”
Eis que reencontramos a temática da essência. O que se entende por este conceito e como definir o que é essencial para algo ou alguém? Para algo parece ser eminentemente fácil, não posso chamar sopa de espinafres a um caldo sem espinafres, a sua essência está nos espinafres. Também os gestores da Lego perceberam que a essência desta está nos tijolos de plástico que permitem reconstruir, recriar e inventar novos mundos enquanto as crianças crescem e se fazem adultos criativos e empreendedores. Na política curricular definida pelo MEC parece existir alguma indefinição relativa aos conteúdos e aprendizagens consideradas essenciais. A definição de currículo essencial necessita de reflexão e ponderação necessariamente constantes. O essencial em tempo de “crises”, seja por carências financeiras, económicas, éticas ou outras, define-se por carência e não por substância, logo, não pode ser considerado como condição suficiente e necessária, mas deve ser ponderado enquanto contingente e temporário, ou seja, quando se gere património comum ou público em tempo de escassez tomam-se opções que não podem ter continuidade temporal sem serem revistas e ponderadas ou alteradas, ao contrário dos tijolos Lego, que parecem demonstrar uma parte fundamental da essência humana, a ausência de oferta curricular diversificada a adolescentes relativa à sexualidade humana, que na sua essência não se pode confundir com reprodução, apresenta-se como um erro essencial numa idade em que a “criatividade” não se exerce somente com tijolos Lego e a compreensão da realidade deve ser ampla. Fica a pergunta: - Que estrutura curricular devemos assegurar nas escolas portuguesas para que todos tenham os tijolos fundamentais para construir futuro e sentido?

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Que agenda é esta?


A agenda Dianoia - Integra Saberes 2015/2016 é um objecto em suporte papel em que o tempo de crianças, jovens e adultos pode ser planeado, seja este de ócio ou de negócio, porque o tempo de ócio é fundamental para planear o de realização, propomos espaço e folhas em branco nas quais os pensamentos, os desenhos ou as notas pessoais podem ganhar forma. 
Por outro lado, porque acreditamos na leitura como fonte inesgotável de motivação e inspiração para a aprendizagem, propomos, ao longo dos meses, obras de autores portugueses, referenciados no PNL, para jovens entre os 8 e os 14 anos, estas propostas são acompanhadas pelos orientadores de leitura que constituíram o projecto "Leituras de Verão". As questões que colocamos aos textos e aos leitores supõem a leitura e o diálogo livre e aberto, sem receio de respostas incorrectas ou interpretações desviantes. O prazer de ler é o objectivo que permite alcançar a atitude crítica e a curiosidade por outro livro ou autor, simultaneamente promove a escrita e a gestão pessoal do tempo de ócio/negócio em que a descoberta do mundo e de si acontecem.

Obras e autores propostos:

(8 aos 11 anos)



"O Cavaleiro da Dinamarca", Sophia de Mello Bryner Andersen
"Os Piratas", Manuel António Pina
"Herbário", Jorge Sousa Braga
"A Maior Flor do Mundo", José Saramago
"Histórias em ponto de contar", António Torrado e Maria Alberta Menéres




(12 aos 14 anos)



"Ilíada", adap. de João de Barros
"Odisseia", adap. de João de Barros
"A Eneida", adap. de João de Barros
"Os Lusíadas para gente nova", Vasco Graça Moura
"Aquilo que os olhos vêem ou o Adamastor", Manuel António Pina