domingo, 29 de novembro de 2015

Deus, (...) está longe, não se ocupa do que fazem as mulheres.

"Nu feminino no divã", Henri Toulouse-Lautrec, 1882


"A sala agora estava um pouco escura.
- Pois não te parece? - perguntou ela.
Aquela conversa embaraçava Luísa: sentia-se corar; mas o crepúsculo, as palavras de Leopoldina davam-lhe como um enfraquecimento de uma tentação. Declarou todavia "imoral" semelhante ideia.
- Imoral, porquê?
Luísa falou vagamente nos "deveres", na "religião". Mas os "deveres" irritavam Leopoldina. Se havia uma coisa que a fizesse sair de si - dizia - era ouvir falar em deveres! ...
- Deveres? Para com quem? Para um maroto como meu marido?
Calou-se, passeando pela sala, excitada:
- E enquanto a religião, histórias! A mim me dizia o padre Estevão, o de luneta que tem os dentes bonitos, que me dava todas as absolvições, se eu fosse com ele a Carriche!
- Ah, os padres ... - murmurou Luísa.
- Os padres quê? São a religião! Nunca vi outra. Deus, esse, minha rica, está longe, não se ocupa do que fazem as mulheres."

"O primo Basílio", Eça de Queiroz

Sem comentários:

Enviar um comentário