sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Alguma coisa de celeste


"Natureza morta", Josefa  De Óbidos, (1630-1684)

"- Olha, acolá; onde está aquela fila de olmos, e há o riacho, já são terras do tio Adrião. Tem ali um pomar, que dá os melhores pêssegos de Portugal ... Hei-de pedir à prima Joaninha que te mande um cesto deles. E o doce que ela faz com esses pêssegos, menino, é alguma coisa de celeste. também lhe hei-de pedir que te mande o doce.
Ele ria:
- Será explorar de mais a prima Joaninha.
E eu (porquê?) recordei e atirei ao meu Príncipe estes dois versos de uma balada cavalheiresca, composta em Coimbra pelo meu pobre amigo Procópio:

- Manda-lhe um servo querido,
Bem hajas dona formosa!
E que lhe entregue um anel
E cum anel uma rosa,

Jacinto riu alegremente:
- Zé Fernandes, seria excessivo, só por causa de meia dúzia de pêssegos, e de um boião de doce."

"A cidade e as serras", Eça de Queiroz

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