quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Conselhos de Maquiavel para o bom relacionamento entre diferentes orgãos de Estado



"Não quero deixar de tratar um capítulo importante, e um erro do qual os príncipes dificilmente se defendem, se não são prudentíssimos ou se não elegem bem. E estes são os aduladores de que as Cortes estão pejadas: porque os homens tanto se comprazem nas suas coisas próprias, e aí de tal modo se enganam, que com dificuldade se defendem dessa peste, e, a quererem defender-se dela, correm perigo de se expor ao desprezo. Porque não há outro modo de o príncipe se guardar dos aduladores que não seja o conhecimento que os homens tenham de que o não ofendem com dizer a verdade; mas o facto é que também quando cada um pudesse dizer a verdade ao príncipe não se teria para com ele toda a reverência. Um príncipe prudente deve usar, portanto, de um terceiro modo com eleger no seu Estado homens sábios e só a eles conceder livre arbítrio para lhe dizerem a verdade, e apenas acerca daquelas coisas que lhes pergunte e não acerca doutras; mas deve interrogá-los acerca de tudo e, depois de lhes ouvir a opinião, deliberar por si, a seu modo; e deve nos conselhos, portar-se de tal modo com cada um deles, que cada um saiba que quanto mais livremente se lhe fale, tanto mais o que assim proceder lhe será aceite: fora dos conselhos não deve querer ouvir ninguém, não deve afrouxar nas decisões tomadas, e deve obstinar-se nas suas resoluções. Quem proceder de outro modo, ou é precipitado pelos aduladores, ou muda amiúde pela variedade dos pareceres: do que resultará que seja pouco apreciado."

Maquiavel, Nicolau, O Príncipe, Guimarães Editores, Lisboa, 1999, pp 112-113

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