terça-feira, 27 de outubro de 2015
"O Têpluquê" de Manuel António Pina, capítulos I e II, actividades e orientador de leitura
"A revolução das letras"
CAPÍTULO I
A ordem alfabética
CAPÍTULO II
As contas das letras
- Escreve palavras com três vogais e cinco consoantes como em Fernando ou palavras.
- Escreve palavras com três consoantes como em Manuel ou Ângela.
- Escreve palavras (em Português) só com consoantes ... consegues lê-las?
- Escreve uma frase com cinco palavras ... conta as vogais e as consoantes. Na frase que escreveste substitui duas palavras por outras, sem alterar o sentido da frase nem o número de vogais e consoantes.
- A ordem das palavras na frase é importante? Consegues explicar porquê?
- Quais são as palavras de que mais gostas? Escreve-as aqui.
- Quais são as tuas palavras privilegiadas? Porquê?
- Como se fazem as palavras?
- Como escolhes as palavras que utilizas?
- Tanto faz ou escolhes com ordem?
Esperamos as tuas dúvidas e respostas aqui
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
Romantismo em "A cidade e as serras" de Eça de Queiroz
"Caminhante sobre mar de névoa", Caspar David Friedrich, 1818 |
O título “A cidade
e as serras” revela uma categorização moderna e iluminista ao
estabelecer a separação entre sujeito cognoscente e realidade a
descobrir, ou seja, na relação que se estabelece entre a paisagem e
o olhar que a define como paisagem não é a paisagem, enquanto
entidade, que se dá, mas, o sujeito que olha, que a cria e define. O
olhar humano atribui e caracteriza a paisagem como realidade para si,
ao fazê-lo transforma o mundo em várias categorias antropológicas
de segmentação e dissecação que criam a ilusão do controlo e
manipulação do real.
Por outro lado, o
título “A cidade e as serras”, apresenta uma distinção entre
paisagens mais humanizadas e menos humanizadas, em que a categoria
humano é recurso crítico para a avaliação de comportamentos e
acções sociais, tecnológicas, científicas e filosóficas. A
questão que se coloca diz respeito à definição de humano a partir
da qual, Eça de Queiroz, constrói e caracteriza tipos, personagens
e paisagem narrativa em que estes se movem.
Ao referir a Cidade
como lugar de excesso, de “fartura” e de alienação
assume a posição iluminista e romântica de retorno à “natureza”
como recurso salvífico para uma humanidade envolta nas ilusões do
progresso e da tecnologia. Sair da cidade e voltar à natureza, “às
serras”, significa deixar vícios e, fundamentalmente, assumir
que a dimensão social do ser humano tem limites ou fragilidades. A
felicidade parece encontrar-se em momentos de afastamento da Cidade,
o contrato social a que esta obriga, presente nos hábitos, nas
rotinas, nas leis e planeamento urbano, apresenta-se como algo que desvirtua a natureza
humana.
Esta abordagem
antropológica, característica do pensamento moderno, faz-se por
oposição ao modelo clássico de sociedade e humano, no qual a
excelência só é possível no contexto social e comunitário.
Polis, urbe e civitas demonstram etimologicamente a importância da
construção social conjunta e o desenvolvimento da virtude social
como consequência da vida em conjunto. Perdido este horizonte de
virtude e natureza humana, que se concretiza na cidade, ao assumir-se
que a principal característica do humano é a luta entre si ou
competição para o acumular da propriedade individual, assumido como
direito absoluto, a lei e a ordem da Cidade, surgem como imposições
necessárias e apaziguadoras, sendo abandonada a ideia da
sociabilidade como elemento constitutivo de humano. Assim, tal como
Jean-Jacques Rousseau, em Emílio, propõe o regresso à educação
natural longe da cidade e das suas alienações, Eça, apresenta a
paisagem serrana e a simplicidade dos costumes na pequena aldeia ou
quinta, como refúgio em que o humano reencontra a sua natureza numa relação romântica com o paraíso perdido.
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
Trilhando o mesmo caminho
"Tarde de domingo na ilha de Grande Jatte", Georges Seurat, 1884-1886 |
" Mas o que a Cidade mais deteriora no homem é a Inteligência, porque ou lha arregimenta dentro da banalidade ou lha empurra para a extravagância. Nesta densa e pairante camada de Ideias e Fórmulas que constitui a atmosfera mental das Cidades, o homem que a respira, nela envolto, só pensa todos os pensamentos já pensados, só exprime todas as expressões já exprimidas: - ou então, para se destacar na pardacenta e chata Rotina e trepar ao fŕagil andaime da gloríola, inventa num gemente esforço, inchando o crânio, uma novidade disforme que espante e detenha a multidão como um monstrengo numa feira. Todos, intelectualmente, são carneiros trilhando o mesmo trilho, balando o mesmo balido, com o focinho pendido para a poeira onde pisam, em fila, as pegadas pisadas; - e alguns são macacos, saltando no topo de mastros vistosos, com esgares e cabriolas."
"A cidade e as serras", Eça de Queiroz, 1899
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
Com este labor e este pranto se edifica a abundância da Cidade
"Os comedores de batatas", Vincent Van Gogh, 1885 |
"E com este labor e este pranto dos pobres, meu Príncipe, se edifica a abundância da Cidade! Ei-la agora coberta de moradas em que eles não se abrigam; armazenada de estofos, com que eles não se agasalham; abarrotada de alimentos, com que eles se não saciam! Para eles só a neve, quando a neve cai, e entorpece e sepulta as criancinhas aninhadas pelos bancos das praças ou sob os arcos das pontes de Paris ... A neve cai, muda e branca na treva; as criancinhas gelam nos seus trapos e a polícia em torno, ronda atenta para que não seja perturbado o tépido sono daqueles que amam a neve, para patinar nos lagos do Bosque de Bolonha com peliças de três mil francos. Mas quê, meu Jacinto! a tua Civilização reclama insaciavelmente regalos e pompas, que só obterá, nesta amarga desarmonia social, se o Capital der ao Trabalho por cada arquejante esforço, uma migalha ratinhada. Irremediável, é pois, que incessantemente a plebe sirva, a plebe pene! A sua esfalfada miséria é a condição do esplendor sereno da Cidade."
A cidade e as serras, Eça de Queiroz, 1899
Sua Excelência sofre de fartura
"Bar em Folies-Bergère" Édouard Manet, 1882 |
"Não se ocupara mais das suas Sociedades e Companhias nem dos Telefones de Constantinopla, nem das Religiões Esotéricas, nem do Bazar espiritualista, cujas cartas fechadas se amontoavam sobre a mesa de ébano, do onde o Grilo as varria tristemente como o lixo de uma vida finda. Também lentamente se despegava de todas as suas convivências. As páginas da Agenda cor-de-rosa murcha andavam desafogadas e brancas. E se ainda cedia a um passeio de mail-coach, ou a um convite para algum Castelo amigo dos arredores de Paris, era tão arrastadamente, com um esforço tão saturado ao enfiar o paletot leve, que me lembrava sempre um homem, depois de um gordo jantar de província, a estalar, que, por polidez ou em obediência a um dogma, devesse ainda comer uma lampreia de ovos!"
A cidade e as serras, Eça de Queiroz, 1899
sexta-feira, 16 de outubro de 2015
Alguma coisa de celeste
"Natureza morta", Josefa De Óbidos, (1630-1684) |
"- Olha, acolá; onde está aquela fila de olmos, e há o riacho, já são terras do tio Adrião. Tem ali um pomar, que dá os melhores pêssegos de Portugal ... Hei-de pedir à prima Joaninha que te mande um cesto deles. E o doce que ela faz com esses pêssegos, menino, é alguma coisa de celeste. também lhe hei-de pedir que te mande o doce.
Ele ria:
- Será explorar de mais a prima Joaninha.
E eu (porquê?) recordei e atirei ao meu Príncipe estes dois versos de uma balada cavalheiresca, composta em Coimbra pelo meu pobre amigo Procópio:
- Manda-lhe um servo querido,
Bem hajas dona formosa!
E que lhe entregue um anel
E cum anel uma rosa,
Jacinto riu alegremente:
- Zé Fernandes, seria excessivo, só por causa de meia dúzia de pêssegos, e de um boião de doce."
"A cidade e as serras", Eça de Queiroz
quinta-feira, 15 de outubro de 2015
Deixar a alma preguiçar
"Lugar do Prado" Silva Porto, 1892 |
"A manhã, com o céu todo purificado pela trovoada da véspera, e as terras reverdecidas e lavadas pelos chuviscos ligeiros. Oferecia uma doçura luminosa, fina, fresca, que tornava doce, como diz o velho Eurípedes ou o velho Sófocles, mover o corpo e deixar a alma preguiçar, sem pressa nem cuidados. A estrada não tinha sombra, mas o sol batia muito de leve, e roçava-nos com uma carícia quase alada. O vale parecia a Jacinto, que nunca ali passara, uma pintura da Escola Francesa do século XVIII, tão graciosamente nele ondulavam as terras verdes e com tanta paz e frescura corria o risonho Serpão, e tão afáveis e prometedores de fartura e contentamento alvejavam os casais nas verduras tenras! Os nossos cavalos caminhavam num passo pensativo, gozando também a paz da manhã adorável. E não sei, nunca soube, que plantazinhas silvestres escondidas espalhavam um delicado aroma, que eu tantas vezes sentira, naquele caminho, ao começar o Outono."
A cidade e as serras, Eça de Queiroz
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
Viste o comedouro?
Cozinha da casa de Manhufe, Amadeo de Sousa Cardozo, 1913 |
"Viste o comedouro?
-Não-
- Então vem admirar a beleza na simplicidade, bárbaro!
Era a mesma onde nós exaltáramos o arroz com favas - mas muito esfregada, muito caiada, com um rodapé besuntado de azul estridente, onde logo adivinhei a obra do meu Príncipe. Uma toalha de linho de Guimarães cobria a mesa, com as franjas roçando o soalho. No fundo dos pratos de louça forte reluzia um galo amarelo. Era o mesmo galo e a mesma louça em que na nossa casa, em Guiães, se servem os feijões aos cavadores ..."
"A cidade e as serras", Eça de Queiroz
Projecto Dianoia – Integra Saberes
Dianoia é um
termo de origem grega que significa entendimento. Aprendemos a
estabelecer relações entre assuntos e aprendizagens quando estas
surgem de forma integrada, ou seja, relacionada, quando isso acontece
dizemos que entendemos. Porque a tarefa de entender implica observar,
ouvir, ler e perguntar, o projecto Dianoia – Integra Saberes
quer ajudar nestas tarefas. Como? Propondo e orientando os leitores
mais jovens e menos jovens na tarefa da leitura. Seleccionamos
autores e textos, incluídos no PNL, construímos orientadores de
leitura e comentários de recensão crítica. Mas, porque o apelo à
leitura implica o diálogo com outros leitores, esperamos os vossos
comentários e questões. Quer seja pai ou mãe de um jovem, quer
sejas o jovem cheio de perguntas, quer seja a pessoa curiosa para
quem a leitura é uma janela para um entendimento maior do mundo,
estamos disponíveis para partilhar autores e orientar leitores, por
isso elaboramos um calendário de actividades para o ano 2015/2016
publicado em:
e:
Aqui, os mais novos
encontram três amigos: Sophia, Fhilos e Ócio que os ajudam na
descoberta de sentido dos textos. Os jovens e adultos têm a
companhia de Atena para acompanhar as suas dúvidas.
Visitem-nos!
terça-feira, 13 de outubro de 2015
Civilização
“- E os caixotes? Oh Jacinto? …
Toda aquela imensa caixotaria que nós mandámos, abarrotada de
Civilização? Soubeste? Apareceram?”
A cidade e as serras, Eça de Queiroz
Ler ou reler Eça de Queiroz é sempre uma actividade inicial na medida em que redescobrir um autor significa ler o que ainda não se tinha dado à interpretação e permite recordar o conselho dos primeiros anos de faculdade em que os professores nos diziam “não leiam um autor através dos seus comentadores”, não caí nessa tentação porque o tempo disponível para aulas, leituras e outras dinâmicas de socialização não era tanto quanto …
Isto quer dizer que o hábito de não depender de “comentadores” acontece por vezes involuntariamente e só mais tarde percebemos como é importante a intuição inicial do texto, livre de camadas contextuais de interpretação e leitura. Mas também quer dizer que todo o comentário ou orientação de leitura nos coloca diante do dilema: esperar pela leitura autónoma ou orientar a leitura? Deixar ler ou mediar? O acto de mediar implica interpretação, por isso o dilema, fornecer o texto e esperar pela descoberta ou orientar a própria descoberta procurando revelar pormenores motivadores? Mas não parece ser esta a questão principal do comentário ou do orientador de leitura, o impulso de partilha da descoberta que surge aos nossos olhos, decorre da alegria da própria descoberta, não podemos deixar o efeito da aprendizagem calado em nós, é preciso comunicá-lo. Por isso, partilhar a leitura de um texto e autor é tão significativo.
Partilhar a leitura de Eça em “A cidade e as serras” encanta e diverte. Eça envolve-nos em narrativa poderosamente descritiva, povoada de emoções e visões de análise sociológica e comportamental que permitem conversas, tertúlias e até pequenas introduções à sua leitura, como esta.
Ler Eça em “A cidade e as serras”, produz um contentamento tão contente que é impossível não o partilhar. O aborrecimento de Jacinto, a disponibilidade de Zé Fernandes, o ondular social e parisiense das damas e frequentadores do 202, a opulência tecnológica e consumista apresentados através de uma criticidade cómico-burlesca, orientam-nos e permitem uma análise da vida urbana e burguesa do último quartel do século XIX, génese de todas as actualidades. A escrita realista descreve e caracteriza textos e contextos em que as personagens permitem “viver a pele de ...” de tal forma que passamos a habitar o 202 dos Campos Elísios como se de verdade aí habitássemos. A novela do aborrecimento de Jacinto acontece diante dos nossos olhos e vamos “palpitando” o seu desenlace: aborrece a ciência e o progresso, aborrece a burguesia desvirtuada. As serras são a nobre nobreza que remonta a tempos del'rei D. Dinis, a cidade a nobreza desvirtuada, transfigurada em burguesia, afastada do cuidado aos seus, fielmente representados na atempada missiva relatando o desabamento e desassossego dos ossos dos antepassados sob a tempestade, pressagiada na inundação do 202 e no episódio do elevador que justificaram a observação de Grilo: “Sua Excelência sofre de fartura.”
“Exprimindo, na face e na indecisão mole de um bocejo, o embaraço de viver!”, Jacinto, o Príncipe de José Fernandes, “começou a ler apaixonadamente, desde o Ecclesiastes até Schopenhauer, todos os líricos e todos os teóricos do Pessimismo.”
“-Zé Fernandes, vou partir para Tormes.”
O cuidado aos antepassados fá-lo regressar às serras.
“- Ouve lá, Pimentinha … não está aí o Silvério?
- Não … O Silvério há quase dois meses que partiu para Castelo de Vide, ver a mãe que apanhou uma cornada de um boi!”
Enfim, as peripécias continuarão dando lugar a mudanças substanciais de atitude perante a vida e a chamada civilização, recuperando o aroma e sabor ditos naturais, reencontrando o paraíso quase perdido.
segunda-feira, 5 de outubro de 2015
Calendário Dianoia - Integra Saberes 14/17 anos
Olá, sou Atena, tenho propostas de leitura e questões sobre textos, contextos e autores, podem contar comigo e questionar-me, enviem as vossas dúvidas e sugestões para a Dianoia - Integra saberes ao meu cuidado.
Os textos que escolhi, para questionar, a pensar em vós são os seguintes:
Data |
Autor |
Título |
12 Outubro |
Eça de Queiróz |
A cidade e as serras |
9 Novembro
|
Eça de Queiróz |
O primo Basílio |
14 Dezembro |
Eça de Queiróz |
Os Maias |
11 Janeiro |
Nicolau Maquiavel |
O Príncipe
|
15 Fevereiro
|
Luís Vaz de Camões |
Os Lusíadas (excertos) |
14 Março
|
Voltaire |
Cândido ou o optimista |
11 Abril |
Mia Couto |
Jesusalém
|
9 Maio |
Valter Hugo Mãe |
A máquina de fazer espanhóis |
13 Junho
|
José Luís Peixoto |
Morreste-me |
Calendário Dianoia - Integra Saberes 2015/2016 para os mais jovens (7/13 anos)
Olá amigas e amigos, apresentamos o calendário Dianoia-Integra saberes para os mais jovens.
Eu, o Ócio, serei o vosso acompanhante durante este período, não esqueçam que a Sophia e o Fhilos estão na escola, eu, como sou gato, fico por aqui ...
Damos continuidade à publicação de orientadores de leitura, em cada terceira segunda-feira do mês, textos referidos pelo PNL - Plano Nacional de Leitura - distribuídos da seguinte forma:
7/13 anos ( do 2º ao 8º ano escolaridade)
Mês
|
Ano escolar
|
Autor
|
Título
|
Outubro | 2º ano |
M.
A. Pina
|
O
Têpluquê
|
Novembro | 3º ano |
A.
Torrado
|
Mercador
de coisa nenhuma
|
Dezembro | 4º ano |
Mia
Couto
|
O
gato e o escuro
|
Janeiro | 5º ano |
M.
A. Pina
|
O
pássaro na cabeça
|
Fevereiro | 6º ano |
G.
M. Tavares
|
O
senhor Valéry
|
Março | 7º ano |
J.
E. Agualusa
|
A
substância do amor e outras crónicas
|
Abril | 8º ano |
S.
M. B. Andersen
|
Histórias
da terra e do mar
|
Mas também queremos fazer coisas novas, para que o Fhilos e a Sophia possam participar ... por isso estamos a preparar pequenas actividades que possam frequentar em conjunto com um adulto. Vamos "Desalinhar os textos" e descobrir outras coisas que estes nos podem dizer. Sobre esta actividade daremos notícias nos próximos dias.
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