Muitos
têm dito que a educação é a sua paixão, se tantos o dizem o que
tem a educação de extraordinário para manter tantos apaixonados ao
longo da história da humanidade? Bem a educação pode ser o
projecto de uma vida, o projecto de um povo, o projecto de um país,
o projecto de um estado, o projecto de uma comunidade e deve ser o
projecto de cada um de nós. Por se definir nesta fronteira
projectiva, ou seja, no espaço que ainda não é, mas que somos
capazes de antever como será, apaixona. Faz surgir em cada um o
melhor, permite sonhar, orienta a nossa acção e em muitos é tão
forte o seu desejo que fazemos dela profissão e serviço. Na
antiguidade clássica, os povos helénicos, definiam-na como PAIDEA,
processo de formação a partir do qual a natureza humana se
aperfeiçoava e desenvolvia no sentido da “arete”. A
virtude, “arete”, era para os gregos o conjunto de
qualidades e capacidades que permitia distinguir os melhores e mais
capazes para o serviço à comunidade. Os “aristoi” eram
desta forma os mais bem preparados e capazes para o governo da polis.
Este conjunto de preocupações era tão levado a sério que Platão
escreveu várias obras sobre o assunto, culminando no diálogo entre
Sócrates e outros tantos “aristoi” na “República”.
Se o principal problema do debate, nesse longo diálogo, é a
justiça, a conversa alonga-se porque se percebe de modo claro a
relação entre os processos de formação e educação e a
possibilidade da justiça. Quer isto dizer que sem a formação
adequada os que servem a cidade têm dificuldade em exercer um
governo da coisa pública que garanta a prática da justiça . Claro
que nos dias de hoje o que mais nos preocupa são as tecnologias ao
serviço de todo o tipo de desenvolvimento capaz de se transformar em
ganhos financeiros e económicos. Ou seja, para nós a educação é
pouco o processo geral de formação de homens e mulheres capazes de
sentido e serviço à comunidade e mais o processo de formação de
homens e mulheres, mais homens, capazes de resolver o problema x
ou y que
impede o ganho contabilizado e previsto. A
educação tem perdido a capacidade de ser formadora e parece
esgotar-se em ser empregadora, portanto como não podem existir
desempregados licenciados, sejamos eficientes e reduzamos a hipótese
dessa realidade, reduzindo o número dos que são educados, ou seja,
dos que estão matriculados. Por outro lado, se os currículos nos
fizerem aprender pouco tanto melhor, como são poucos os que na
escola estão, a relação entre eficiência do sistema e resultados
finais será sempre economicamente viável e, portanto, um caso de
sucesso. Tudo isto a propósito de sistema educativo português,
da
sua
eficiência e das suas finalidades, porventura
semelhantes ao
que os helénicos apelidariam de “arete”!
Fiquei um pouco apreensivo mas gostei de ler. Tio Quim
ResponderEliminar